Nat пишет о себе
Como um relâmpago a régua passou diante dos seus olhos e acertou a sua mão que se estendeu nas teclas. A recolheu com pressa ao instante que o seu grito de dor ecoava. Um berro pedindo silêncio devastou o ambiente. “Uma contradição”, assim pensou. Um grito pelo silêncio. Cumpriu a ordem. Mais gritos pela incompetência ao correr. Não restara nada. Faltou-lhe o ar. Silêncio. Ordens. Castigos. Punição.
A gagueira era sua companhia mais fiel. Detestava essa fidelidade. Preferia os livros. Eles não o acompanhavam na maioria das vezes, mas exigiam silêncio sempre. No fundo sabia que seriam sua única companhia. Livrou-se parcialmente da gagueira. Ao irritar-se ela reaparecia. Não sempre. No entanto, a espreita, esperando o momento adequado, surgia, então não conseguia pronunciar as palavras. Suava e a partir dai o nervosismo tomava conta de si. A gagueira era o eterno retorno. Alguns tinham cicatrizes, outros até objetos, ele tinha a gagueira para lembrar-lhe o passado.
Os livros continuaram fieis. E ele fez sua parte também. Tornou-se professor de literatura, porém, como poucos, manteve-se junto aos livros, mesmo dando aula para adolescentes. O pacto, talvez mais inconsciente do que qualquer outra coisa, ampliou-se de tal modo que só se relacionava com pessoas com fidelidade semelhante. Poucas, sempre foram e continuarão sendo. Assim, havia mais conhecidos do que amigos. Era um sujeito estranho. Casou-se cedo e logo se separou, nem ao menos esperou o filho nascer. Ela não era fiel.
Não visitava os irmãos, nem ligava e nunca falava do pai e da mãe. Abominava famílias. Poucas vezes vira o filho, que o ignorava. Dan o ignorava sempre, não o dirigia a palavra. Nat respeitava o silêncio do filho. A fidelidade ao silêncio não deve ser corrompida. Nat era estranho. A ex-esposa o respeitava e ligava apesar de tudo. Os alunos o chamavam de “professor estranho”, os mais cruéis de “palerma-mor”. Os outros professores diziam que era um serial-killer. Mora em um apartamento, em um prédio antigo, em New York. O silêncio também é fiel.
##
- Professor Mac Kenneth? - Perguntou um policial depois de batidas impertinentes na porta. Era um jovem policial. Jovem o suficiente para não entender que o silêncio não se interrompe, não se supera. Retirou o quepe. Sem jeito sentenciou: - Lamento informar. Seu filho,Dan, entrou na escola e atirou em várias pessoas. Houve muitas mortes. - O jovem se calou. Aprendeu a lição. O silêncio sempre é o vitorioso.